A foto com mais tags

Reprodução do site Glasto Tag

Reprodução do site Glasto Tag

Essa semana li a respeito[1] de uma foto do Facebook com mais tags. Trata-se de uma panorâmica feita em um festival inglês, o Glastounburry, na qual é possível para aqueles presentes ao evento marcá-lo na foto. A idéia é simples: se você achou algum conhecido na foto, marca-o através do seu perfil do Facebook; como os mais de 7 mil presentes já fizeram – o que representa 10% de um total de 70 mil participantes do festival.

Interessante esse “engajamento” por se mostrar presente a um evento. Em poucas horas de sua publicação no site Glasto Tag, a foto já contava com 3.295 marcadores identificando pessoas. A foto estreou no dia 1 desse mês, e as pessoas foram divulgando a idéia e assim elas vão se identificando. Vale lembrar que não se trata de participar apenas pelo espírito de comunhão: é necessário estar presente ao festival para ao menos começar a procura por si na panorâmica. Por serem compartilhadas no Facebook, a atividade de inserir tags transformou-se em uma busca coletiva.

Ação como esta se assemelha, a meu ver, com aquela forma de se fazer propaganda que remete ao registro de um dado acontecimento histórico – a publicidade do “eu fui”. Lembro que um amigo meu tinha um poster do Rock in Rio 3, com esses dizeres, no qual ele marcou onde estava. Uma forma de se fazer história: de se mostrar presente em um acontecimento importante. Nesse caso, se dá de forma muito mais dinâmica e veloz, pelas próprias características do ambiente em que a foto está inserida. Óbvio que se trata de uma estratégia de comunicação pensada por profissionais de mídias sociais[2].

Porém, esse caso de trabalhar com a memória dos personagens em uma foto me lembrou do trabalho do fotojornalista Evandro Teixeira, o qual resolveu fazer essa busca por indivíduos numa foto de multidão realizada na passeata mais marcante à época da ditadura. De cunho mais político, o projeto resultou no livro “68: Destinos. Passeata dos 100 Mil”. É valioso o registro, pois ele vai atrás dos personagens desse momento histórico no Brasil, e passa a traçar um perfil de 100 pessoas – como eles chegaram até a passeata, e qual a sua ocupação atualmente: o que aquele momento influenciou em suas vidas. Uma forma de deixar marcado na memória aqueles que são encarados como meros figurantes. Curioso notar casos em que pessoas nas quais até o momento daquela foto não se conheciam vieram a se casar muitos anos depois.

Reprodução da capa do livro "68: Destinos. Passeata dos 100 Mil"

Após o exemplo, gostaria de terminar reforçando a possibilidade desses marcadores nas fotos como elemento constituinte de práticas interativas. Algo que há algum momento atrás gerou inclusive polêmica quando o Orkut retirou a possibilidade de inserir essas marcações nas fotos. O leitor deve se lembrar dos casos em que se faziam painéis com personagens, em que um usuário atribuía aos seus amigos – e inimigos – personagens de acordo com a personalidade de cada um. A justificativa para a retirada dessas marcações manuais foi devido a queixa de usuários que eram marcados indevidamente nas fotos: se existia a possibilidade de marcar qualquer coisa, desde um objeto na foto ou alguém que na verdade não se trata daquele marcado, era com isto possível, no mínimo, zoar com os amigos.

A partir de então, é o próprio sistema quem se encarrega de reconhecer o rosto nas fotos, e cabe ao usuário apenas a identificar quem é. O que restringiu essa possibilidade de interação, ao mesmo tempo em que ainda causa certo constrangimento quando o usuário não é marcado automaticamente na foto. Como José Carlos preceitua, são as variáveis técnicas que intervém nas sociais, como também o contrário. Já nesse site aqui tratado, o barato é justamente a identificação e marcação manual dos participantes.


[1] Por indicação de Tarcízio Silva.

[2] Trata-se de uma ação da operadora de celular Orange, em parceria com o festival e Facebook.

Geotaggers’ World Atlas

Londres, no Geotaggers' World Atlas (Fonte: http://www.flickr.com/photos/walkingsf/4621770253/)

O fotógrafo Eric Fischer criou mapas impressionantes dos lugares que as imagens são tiradas em cinqüenta cidades no mundo, em função da densidade de fotografias tiradas nas mesmas. As localizações das fotos vêm das APIs públicas do Picasa e do Flickr. Os scripts gerados PostScript que depois foram convertidos em JPEGs, como se observa na imagem acima.

Interessante perceber como os mapas do Geotaggers’ World Atlas estão ordenados pelo número de fotos tiradas no cluster central de cada um – provavelmente, regiões da cidade com maior visitação ou pontos turísticos. E Nova York está no topo da lista.

Dessa forma, Fischer comenta sobre o projeto na sua página do Flickr que é um pouco “injusto” para cidades policêntricas como Tóquio e Los Angeles, que tem colocação inferior a outras por existir “lacunas” onde ninguém fez fotos. Se as anotações realizadas através da quantidade de fotografias com geo-localização tomam como base os clusters, é possível que uma cidade como Tóquio possua muito mais fotos, em toda a sua cidade, do que Salvador, por exemplo, e essa última venha a ter um mapa melhor distribuído por fotos; porém, o sistema faz uma média a depender do lugar, dá um parâmetro a partir das regiões com mais fotos na cidade em questão, apenas.

Percebe-se nesse projeto como as cidades estão dispostas como grandes redes, em que é possível compreender como as fotografias se posicionam tendo como base lugares mais interessantes – os hubs. Fazendo uma analogia às redes, da mesma forma os indivíduos se agrupam em torno de hubs, as fotografias se concentram torno destes, que se apresentam de forma geo-localizada.

A cidade se inscreve a partir dos agrupamentos entre regiões tidas como mais interessantes, enquanto as demais ficam esquecidas pelos olhares dos fotógrafos, amadores ou profissionais. Várias implicações pode-se fazer a esse respeito, inclusive políticas: a forma como uma cidade se estrutura em determinados centros – hubs – para receber turistas, em detrimento de outros bairros, que recebem menor atenção para projetos de revitalização e urbanização. Ou de que forma se diminui a visão de que se tem de uma cidade quando toda a atenção se dá apenas em pontos específicos, que prescrevem um discurso monopolizante de um dado espaço.

Veja mais em: http://www.flickr.com/photos/walkingsf/sets/72157623971287575/map/